ARTIGO DO MÊS DE SETEMBRO
SAGRADA
ESCRITURA: A Palavra de Deus
Nós, cristãos, alimentamos a nossa alma com a Palavra Encarnada de Deus,
Nosso Senhor Jesus Cristo, presente na Eucaristia. E também nutrimos a nossa
mente e o nosso coração com a palavra de Deus que nos foi entregue pelos
patriarcas, profetas e Apóstolos que escreveram os livros da Bíblia. O que eles
nos dão é palavra de Deus, pois Deus inspirou os autores dos livros bíblicos
para que escrevessem o que escreveram. Por um ato de Sua providência, Deus fez
que os livros escritos sob a sua inspiração se conservassem através de milhares
de anos e de gerações sucessivas.
Para falar sobre a Revelação Divina, fonte da Sagrada Escritura, a
Igreja, por meio do Papa Paulo VI, escreveu a constituição apostólica Dei
Verbum (DV). Neste documento a Revelação divina compreende que Deus,
livremente, no seu amor e sabedoria quis revelar-se aos homens por meio de
Jesus Cristo para chamá-los a participar da vida divina. Então, o Senhor Deus
não quer revelar coisas, mas deseja revelar seu coração amoroso. A Revelação é
um diálogo de Deus com a humanidade através de sua Palavra eterna feita carne,
Jesus. Este diálogo é para nos levar à vida com Deus, a vida eterna, nossa
plenitude (DV 2).
A Dei Verbum mostra como esta revelação foi sendo preparada ao
longo da história, preparando para Jesus: na própria criação, Deus já se
manifesta pela sua amorosa providência, na eleição de Abraão, nosso Pai na fé,
na aliança com Israel e na palavra dos profetas. Assim Deus foi preparando
Israel e a humanidade para Jesus Cristo: Ele é a própria Palavra de Deus feita
carne. Nele, Deus se deu a nós totalmente (DV 4).
Mas como receber esta revelação de Deus? Qual a nossa atitude, a nossa
resposta? A Dei Verbum responde: “A Deus revelador, é devida a obediência
da fé!” (DV 5). Em outras palavras: a Revelação deve ser acolhida com fé, com
aquela abertura amorosa e disponível que atinge e engloba a pessoa como um
todo. A Revelação não é um conjunto de informações para a inteligência, mas
Alguém que vem ao nosso encontro e a quem devemos acolher com todo o nosso ser.
No entanto, a Revelação inclui também verdades reveladas que devem ser cridas
porque foram reveladas por Deus (DV 6).
Como nos foi transmitida a Revelação divina? Cristo, Revelação do Pai,
confiou a Revelação aos apóstolos que pregaram, viveram e, por inspiração do
Espírito Santo, colocaram por escrito a mensagem salvífica. Para que essa
mensagem de salvação continuasse viva na Igreja, os Apóstolos deixaram os
Bispos como seus sucessores e guardiões da verdade salvífica, contida na Tradição
oral e na Sagrada Escritura (DV 7). Quanto à Tradição apostólica, ela abrange
tudo aquilo que coopera para a vida santa do Povo de Deus e para o aumento da
sua fé. Onde está a Tradição? Na doutrina, na vida e no culto da Igreja, que é
guiada pelo Espírito Santo. Compete aos Bispos em comunhão com o Papa o
discernimento da Tradição apostólica, que vai sempre progredindo na Igreja sob
a inspiração do Santo Espírito (DV 8). Compete aos Bispos em comunhão com o
Papa a interpretação última, seja da Escritura, seja da Tradição: eles
receberam autoridade de Cristo para isso e nesse discernimento são guiados pelo
Espírito Santo (DV 10).
A Escritura é toda ela inspirada por Deus, pois os seus autores
escreveram por inspiração do Espírito Santo, de modo que, mesmo que cada autor
dos livros bíblicos tenha seu estilo e sua visão, o autor final da Escritura é
o próprio Deus e a Bíblia é realmente palavra de Deus que nos transmite a
verdade para a nossa salvação. Não se trata de verdade científica ou histórica,
mas a verdade sobre Deus, sobre o homem e sobre o sentido da vida e do mundo
(DV 11). Por isso mesmo, a interpretação correta da Bíblia requer que se
conheça a cultura do povo da Bíblia, a mentalidade e intenção do autor sagrado,
bem como o gênero literário em que tal ou qual obra foi escrita. Sem contar que
toda interpretação deve estar de acordo com o Magistério da Igreja (DV 12). Uma
coisa é certa: seja o simples crente, seja o estudioso erudito, deve procurar o
sentido último da Escritura em Cristo e procurar interpretá-la no mesmo
Espírito Santo que a inspirou e a entregou à Santa Igreja (DV 21).
Por isso, a Igreja venera as Sagradas Escrituras como Palavra de Deus e
exorta aos fiéis para que se alimentem dessa santa Palavra para o bem de sua
vida espiritual e da sua vida moral. A celebração da Eucaristia é o lugar por
excelência para se proclamar e escutar a Palavra de Deus, pois aí, a Palavra
anunciada, que é Jesus Cristo, faz-se carne que alimenta e dá vida.
Sem. Davi Paulo Coelho