19 de mar. de 2016

SOLENIDADE DE SÃO JOSÉ
19 DE MARÇO DE 2016

Por Antônio Hübner Silva, Primeiro Ano de Teologia.



Quando falamos de São José, logo vem a nossa mente atributos que damos a ele. Lembramos do justo, humilde, fiel, trabalhador,  pai da casa.

Confesso que antes de entrar no seminário eu pensava assim: “São José é um santo tão sem graça”, porque sempre tinha aquela imagem que nos passam nos filmes da vida de Jesus. Aquele homem que quase não aparece, nem sequer tem falas.

Mas com o tempo percebi que na verdade eu pensava isto porque justamente José se dedicava na exaltação de Jesus fazendo-se apenas suporte. O brilho não era seu e sim de seu filho. Aí que entram os atributos mencionados anteriormente:

Lembro primeiramente da humildade: um dia, certo padre que lecionava a disciplina de Antropologia filosófica disse em aula, algo que não esqueci: o humilde não é aquele que se coloca abaixo ou acima do que é, e sim aquele que se coloca no seu lugar. Pensando assim se justifica a minha visão pessimista que tinha de São José, pois na verdade ele se colocava no seu lugar, portanto, dava espaço para seu filho Jesus também colocar-se no seu espaço, como sendo o centro do Evangelho. Vemos aí a importância da humildade. E muitas vezes temos a tentação de atribuirmos a nós a glória que é de Cristo, quando não nos colocamos em nosso lugar, ou seja, quando não somos humildes.

Importante ressaltar também o medo de José. Quando o Anjo aparece-lhe em sonho e diz: “José, filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo (Mt 1,20)”. Mostra que era humano, que possuía fragilidades e nos lembra que, muitas vezes, o medo de errar nos impede de amar. Todavia, o Amor, que é Deus, superou o medo de José, e pode certamente superar os nossos medos também.

Atribuímos a José a qualidade de justo, que na tradição bíblica corresponde à santidade e nós que somos batizados temos como primeiro fim alcançar tal meta, com o auxílio da Graça. Mas podemos nos perguntar? O que é ser santo? A luz da atitude de José, podemos resumir a santidade ao amor gratuito a Deus e aos irmãos e irmãs como a nós mesmos. José gratuitamente amou o plano de Deus como prioridade quando acreditou no conteúdo do sonho, e amou Maria como a si mesmo não a difamando, pela gravidez antes do casamento. 

Outra característica de José é de pai da casa, que no silêncio do dia a dia dava estrutura à Maria e a Jesus garantindo não somente uma casa, mas um lar harmônico de amor, educação, proteção e bens materiais. Sabemos que nesta caminhada vocacional rumo ao presbiterado somos chamados à paternidade, que São José nos ajude a sermos bons pais espirituais. Além disso, assim como José foi pai da casa, em comunhão com o papa Francisco, na Laudato Si e a Campanha da Fraternidade deste ano, somos exortados também a sermos Pais da Casa Comum, seja da micro Casa do nosso eu enquanto alegrias e dilemas internos, seja nossa micro casa comum da comunidade de irmãos formada no seminário, como também somos alertados a cuidar da Macro casa comum da sociedade e do cosmos enquanto todo na busca de um cuidado integral.

A fidelidade é outro termo que é sinônimo de José. Foi fiel à Maria desde a gestação até o percurso de vida do menino Jesus. Gostaria de refletir aqui a exigência de fidelidade que gera o comprometimento. Pensemos nós, como é difícil comprometer-nos com aquilo que não é propriamente nosso, do nosso sangue, da nossa herança. Vejo isso, por mim, como é difícil me comprometer com aquilo que é do outro,  como por exemplo um trabalho de faculdade de um irmão de seminário, as vezes é difícil ajudar, não é meu, é dele, como comumente se fala: “o problema não é meu, se der tempo, te ajudarei!”. Percebamos irmãos que José geneticamente não possuía elo algum com Jesus, nem mesmo era de seu sangue, não era de sua árvore genealógica que tanto era valorizada naquela época, a questão da honra. Mas José, foi capaz de se comprometer e ser fiel àquilo que não era seu. Simplesmente renunciando a si mesmo e sendo fiel consentiu com Maria, tendo em vista, algo muito maior: o plano de Deus. E cá entre nós, além de ter sido fiel a algo que não era exclusivamente dele, foi fiel a algo muitíssimo estranho, uma gestação nada comum, imaginem a proposta: “pai adotivo do Filho de Deus?”. Além de que, levando em conta uma visão mais atual e de certa forma egoísta, emocionalmente me parece ser mais realizador para um homem ser pai “de verdade” e não pai adotivo, apesar de ser um nobre gesto.

José, o carpinteiro ou marceneiro, independente do seu trabalho, era trabalhador. Sabemos que em nossa vida de padre teremos muito trabalho, mas devemos tomar cuidado com o ativismo, pois pode favorecer uma abertura a uma secura espiritual, deixando o Cristo  que é centro à margem. José era pai e servo, pai de família e servo do plano de Deus e não servo do trabalho. Que possamos a exemplo de São José trabalhar pela unidade da família Cristã e não como um mero cumprimento de tarefas, que o trabalho seja o servo e não o senhor de nosso ministério.

São José é nosso patrono universal e também padroeiro de nossa Diocese e tendo em vista que estamos pouco a pouco nos configurando a Cristo entreguemos uma mão a Maria e a outra a José, como faz uma criança diante do pai e da mãe ao atravessar uma rua movimentada, pois sabemos que do outro lado da rua agitada da vida, está Jesus, nosso Senhor, que abraçaremos confundindo entre os braços do abraço o meu eu com o Dele, podendo por fim afirmar com o salmista: “[...] e com ele firmarei minha Aliança indissolúvel”. (Sl 88).

São José, rogai por nós!

2 comentários:

  1. Uma reflexão muito rica, excelente. Parabéns!

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  2. De fato temos que ver São José como Deus o vou primeiro, homem Santo e escolhido à cuidar da sagrada família de Nazaré, muito bom seu artigo, muito verdadeiro.

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