28 de abr. de 2016

ARTIGO ESPECIAL
EM PREPARAÇÃO A SEMANA DE ORAÇÃO PELA UNIDADE CRISTÃ



Semana de Oração pela Unidade Cristã: o Papa Francisco e os pentecostais[1]


André Luís da Rosa;
andreldarosa@hotmail.com

  Caminhamos para o findar do tempo pascal com a festa de Pentecostes.  Portanto, também caminhamos para a celebração da Semana de Oração pela Unidade Cristã (SOUC). Esta semana possui o claro objetivo de fomentar maior diálogo e unidade entre as Igrejas cristãs, sendo, no Brasil, promovida pelo CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs). Porém, não me aterei em explicá-la, mas aproveitarei do espírito desta semana para, observando a realidade brasileira, enfatizar que seu grande desafio ecumênico trata-se de uma aproximação entre católicos e pentecostais, pois este é, ao mesmo tempo, o maior país católico e pentecostal do mundo.

Todo brasileiro, religioso ou não, sabe, ao menos de modo geral, que católicos e pentecostais são grandes rivais no Brasil. A disputa entre estes dois grupos já se tornou clássica: a internet está recheada de vídeos, imagens, blogs, sites de caráter apologético; os púlpitos acolhem muitas pregações sobre seitas e heresias, prevenindo os fiéis dos “inimigos”, onde a interpretação bíblica é aplicada contra as outras Igrejas (como se a Bíblia já tivesse sido escrita tendo em mente estas denominações e formas eclesiásticas); as famílias estão fartas de testemunhos traumáticos de conversões, geradores de conflitos; as comunidades eclesiásticas estão marcadas por mágoas, geralmente: as católicas pela perda de seus fiéis e as pentecostais pela perseguição recebida em suas origens.

Todavia, quem anuncia que é possível estabelecer um diálogo entre católicos e pentecostais no Brasil? A abertura ecumênica que a teologia católica pós-conciliar tanto tem enfatizado não diz respeito também às Igrejas pentecostais? Que abertura é esta? Como resposta, apresento o testemunho do papa Francisco, que nos leva a acreditar que uma nova página pode ser iniciada no Brasil, pois ele é um “apóstolo do diálogo e da unidade” de nosso tempo, o promotor da “cultura do encontro”, que também inclui em sua agenda os pentecostais.

Como cardeal, Bergoglio era orientador de uma plataforma de diálogo católico-pentecostal na Argentina, a CRECES (Comunión Renovada de Evangélicos y Católicos em el Espíritu Santo), e participava de muitos cultos em Igrejas pentecostais. Como papa, em janeiro de 2014, Francisco gravou uma vídeo mensagem para o encontro de pastores e líderes pentecostais do Texas, Estados Unidos, presidido por Kenneth Coperland, na qual afirmou que o Senhor concluirá a obra da unidade entre os cristãos, e que o milagre da unidade foi iniciado e o Senhor irá concluí-lo.[1] Também, no dia 28 de julho do mesmo ano, Francisco foi o primeiro papa a visitar uma Igreja pentecostal, a Igreja Pentecostal da Reconciliação, do pastor Giovanni Traettino, em Nápoles, na Itália. Nesta ocasião pediu para os cristãos unirem-se na diversidade: “o Espírito Santo cria diversidade na Igreja. A diversidade é bela, mas o próprio Espírito Santo também cria unidade, para que a Igreja esteja unida na diversidade”.[2]  No dia 07 de maio de 2015, cerca de 100 pastores pentecostais de diversas regiões do mundo reuniram-se no Vaticano com o papa Francisco, onde, historicamente, ele afirmou: “entre as pessoas que perseguiram os pentecostais também houve católicos [...]. Eu sou o pastor dos católicos e peço perdão por aqueles irmãos e irmãs católicos que não compreenderam e foram tentados pelo diabo”.[3]

Um gesto concreto pela unidade cristã

 A exemplo do testemunho do papa Francisco, podemos acreditar que é possível um novo modo de a Igreja católica relacionar-se com as Igrejas pentecostais. Por isso, proponho aos irmãos católicos dois gestos concretos para a Semana de Oração pela Unidade Cristã que, se concretizados, favorecerão muito o diálogo entre católicos e pentecostais:

1°- Que nós católicos, baseando-nos no Diretório para a aplicação dos princípios e normas sobre o ecumenismo, evitemos nos referir às Igrejas pentecostais como ‘seitas’ pois este termo, em nossa linguagem comum, assume uma conotação pejorativa.[4] Para sabermos: no Brasil, as principais seitas são os adventistas, os  mórmons e  as testemunhas de Jeová. Já as Igrejas pentecostais possuem os ‘Elementos da Igreja’, conforme as orientações do Concílio Vaticano II, no Decreto Unitatis Redintegratio.[5]

2°- Mesmo que a Igreja católica diga reconhecer a diversidade religiosa e respeitar a liberdade religiosa como inerente à condição humana,[6] muitos católicos, mesmo membros da hierarquia, parecem não perceber no pentecostalismo um movimento religioso positivo que se expande por seus próprios méritos e que possui direito à existência. Ao contrário, segundo o teólogo católico Volney José Berkenbrock, devemos reconhecer as Igrejas pentecostais como autênticos espaços de vivência da fé cristã, da experiência viva de Deus.

Para aprofundar o assunto

            Não podemos ser resistentes: a unidade cristã é um mandamento de Cristo e o ecumenismo uma decisão da Igreja Católica no Concílio Vaticano II. Para maior compreensão, devido à complexidade e polêmica do tema em questão, deixo como sugestão para um aprofundamento dois excelentes textos do padre Marcial Maçaneiro, membro da Comissão Internacional de Diálogo Católico-Pentecostal: 


Uma aproximação ao diálogo internacional católico-pentecostal:


O diálogo católico-pentecostal no Brasil: entre desafios e possibilidades:





[1] As principais ideias deste artigo são parte de uma pesquisa maior que realizei e será publicada na revista Caminhos de Diálogo: Revista Brasileira de Ecumenismo e Diálogo Inter-Religioso, no mês de Julho deste ano.

[2] FRANCISCO. Bispo evangélico grava mensagem com Papa Francisco. Disponível em: <http://papa .cancaonova.com/bispo-evangelico-grava-mensagem-com-papa-francisco/>. Acesso: 16 jan. 2016.

[3] FRANCISCO. O encontro do Papa com pastores pentecostais. Disponível em: <http://br.radiovatica na.va/news/2015/05/08/o_encontro_do_papa_com_pastores_pentecostais/1142696>. Acesso: 16 jan. 2016.

[4] FRANCISCO. Papa recebe pastores pentecostais no Vaticano. Disponível em: <https://noticias.gos pelprime.com.br/papa-pastores-pentecostais-vaticano/>. Acesso: 16 jan. 2016.

[5] CONSELHO PONTIFÍCIO PARA A PROMOÇÃO DA UNIDADE DOS CRISTÃOS. Diretório para a aplicação dos princípios e normas sobre o ecumenismo. 3. ed. São Paulo: Paulinas, 2005, p. 184.

[6] CONCÍLIO VATICANO II. Decreto Unitatis Redintegratio. 3. ed. São Paulo: Paulinas, 2005.

[7]Cf. BOCK, Carlos Gilberto. O ecumenismo eclesiástico em debate: uma análise a partir da proposta ecumênica do CONIC. São Leopoldo: Sinodal, 1998, p. 34.

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